Inundação em Marte
Há milhões de anos o clima em Marte devia ser
bem diferente. Provavelmente com uma atmosfera mais densa, o efeito
estufa mantinha a temperatura em níveis mais altos, podendo manter a
água em estado líquido em sua superfície. Com isso, verdadeiros rios
deveriam existir em sua superfície.
Mas será mesmo? Diversas evidências apontam para isso e uma delas foi
estudada em detalhes pela sonda Mars Express da Agência Espacial
Europeia (ESA na sigla em inglês). Essa semana, a agência divulgou as
imagens em alta resolução de um acidente geográfico marciano batizado de
Vale Kasei, um dos maiores sistemas de canais de Marte, com 3 mil km de
extensão e uns 3 km de profundidade.
O canal se origina no Vale Mariner, um dos maiores vales do Sistema
Solar, formado por uma rede de cânions com mais de 4 mil km de extensão,
uns 200 km de largura e até 7 km de profundidade. A sua origem é um
tanto controversa, com teorias que vão desde o fluxo de água corrente,
até fraturas das camadas superficiais do relevo marciano. É mais
provável que uma combinação de várias causas deve formado um vale tão
impressionante como esse.
Já o Vale Kasei mostra claramente ter sido formado por um fluxo bem
volumoso de água. Ele se divide em dois braços que contornam uma área,
uns 2 km acima do leito do vale, como uma grande ilha chamada de Sacra
Mensa. Essa ilha resistiu à erosão da água e todo o seu entorno foi
escavado pelo fluxo de água corrente.
Já mais abaixo, a água literalmente apagou a borda sul de uma cratera
de 100 km de diâmetro que estava em seu caminho, tamanho deveria ser o
seu volume. Mas nessa imagem, é possível notar que em outros pontos o
fluxo de água contornou alguns obstáculos pelo caminho, conforme o fluxo
foi se dispersando.
A semelhança com os rios terrestres é muito grande, mas nesse caso
marciano a origem dessa água toda deve ter sido muito diferente.
Imagina-se que o fluxo de água que causou essa inundação catastrófica
literalmente brotou do solo, depois que a atividade tectônica fraturou a
superfície de Marte e fez a água surgir do subsolo há mais de 3 bilhões
de anos. Para aumentar ainda mais o volume de água corrente, a
atividade vulcânica derreteu o gelo e a neve nas proximidades.
Finalmente, glaciações sucessivas deram a forma final dos canais.
Depois que a fonte secou e a água se foi, crateras de impactos mais
recentes e dunas de areia formadas pelo vento deram o toque final ao
cenário. Hoje um panorama silencioso ao sabor dos ventos, só podemos
imaginar num cenário de rios caudalosos e enxurradas gigantescas
escavando o terreno, tal como os rios na Terra.
Crédito: Agência Espacial Europeia (ESA)
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